Não me lembro de
metade da noite. Não sei onde estou, nem como aqui vim parar. A casa tem boa
cara, e as caras, oh, e que caras... uma das empregadas pisca-me o olho, passa
e língua pelos lábios, verga-se para que me seja possível entrever as perfeitas
rotundidades que apresenta, a bel prazer, por entre um decote de proporções
consideráveis, sendo simpático nas palavras.
A sala apresenta-se
pouco iluminada, uma media-luz, um lusco-fusco próprio daquilo que de mais
erótico há. Mas aqui não há nada que possa adquirir legitimamente esse nobre
adjectivo. Uma absorta podridão apodera-se de todo o espaço, recantos bafientos
inclusivé.
Como é que aqui vim
parar?
Lembro-me dum
jantar. Duma conversa acesa com uma catraia que não devia ter mais que a idade
normal de quem acaba a escolaridade obrigatória. “A idade é um posto” é uma
expressão extremamente subaproveitada nos dias que correm.